sábado, 12 de novembro de 2016

Desculpem! Criamos vocês com pensamentos binários.

Aqueles que já passaram dos 50 anos, provavelmente concordarão comigo. Afinal, nós fomos a geração que viu a tecnologia surgir a passos lentos na vida cotidiana. Para o mais jovens é incompreensível entender que a automação nos bancos começou apenas com terminais off-line de saques. Os vídeo games eram palitinhos monocromáticos que simulavam um partida de tênis. Este cenário trazia um mundo parecido com cinema de ficção científica.

O fato é que a grande maioria com menos de 40 anos, e atualmente entrante no mercado de trabalho vivenciou uma aceleração descomunal da tecnologia. A cada ano, a cada mês ou apenas um dia vivido traziam novidades que inundavam a sociedade de consumo. As próximas gerações vão “tirar tudo de letra” a evolução dos “gadgets”. Todos os novos habitantes do planeta estarão aculturados para as novidades onde o esperado é que tudo pode acontecer! Agora essa geração intermediária que comento, está pagando muito caro a ocasionalidade histórica de ver o crescimento da já chamada Era Tecnológica.

A característica das máquinas é ter “um pensamento binário”. Pelo significado mais simples, binário é algo composto de duas unidades ou dois elementos; que tem duas faces ou dois modos distintos, únicos e opostos de ser. As máquinas nos pedem essas soluções o tempo todo. É sim ou não. É confirma ou cancela. É aceita ou descarta.


A riqueza do pensamento humano reside na dúvida que foi bem descrita por René Descartes. Basta uma rápida espiada na grande vitrine que são as redes sociais virtuais que constatamos essa Guerra declarada de opostos únicos. Esquerda ou direita. Bom ou mau. Certo ou errado. Rico ou pobre. Coxinha ou petralha. Anarquista ou fascista. Sempre em uma polaridade doentia e incomoda. Heiner Müller reconstruiu o clássico de Shakespeare e no texto de dramaturgia “Hamlet Machine” antevia o que parece vivermos: quero ser uma máquina!

A única solução para corrigir esse desvio de rota da humanidade seria estudar filosofia e artes nas suas possibilidades infinitas de expressão. Fico bem desanimado quando vejo artistas e estudiosos de filosofia contaminados por esse pensamento binário embutido em mentes humanas. E o que seria a solução torna-se redundância do erro.


Parafraseando Jorge Luis Borges, “eu estou velho e logo vou morrer!” Mas, vivi um mundo pensante, onde a conversa de ideias divergentes eram momentos agradáveis de prazer e não de combate agressivo com falas emburrecidas.