Aqueles que já passaram dos 50 anos, provavelmente
concordarão comigo. Afinal, nós fomos a geração que viu a tecnologia surgir a
passos lentos na vida cotidiana. Para o mais jovens é incompreensível entender
que a automação nos bancos começou apenas com terminais off-line de saques. Os
vídeo games eram palitinhos monocromáticos que simulavam um partida de tênis.
Este cenário trazia um mundo parecido com cinema de ficção científica.
O fato é que a grande maioria com menos de 40 anos, e atualmente
entrante no mercado de trabalho vivenciou uma aceleração descomunal da
tecnologia. A cada ano, a cada mês ou apenas um dia vivido traziam novidades que
inundavam a sociedade de consumo. As próximas gerações vão “tirar tudo de
letra” a evolução dos “gadgets”. Todos os novos habitantes do planeta estarão
aculturados para as novidades onde o esperado é que tudo pode acontecer! Agora essa
geração intermediária que comento, está pagando muito caro a ocasionalidade
histórica de ver o crescimento da já chamada Era Tecnológica.
A característica das máquinas é ter “um pensamento binário”.
Pelo significado mais simples, binário é algo composto de duas unidades ou dois elementos;
que tem duas faces ou dois modos distintos, únicos e opostos de ser. As
máquinas nos pedem essas soluções o tempo todo. É sim ou não. É confirma ou
cancela. É aceita ou descarta.
A riqueza
do pensamento humano reside na dúvida que foi bem descrita por René Descartes.
Basta uma rápida espiada na grande vitrine que são as redes sociais virtuais
que constatamos essa Guerra declarada de opostos únicos. Esquerda ou direita.
Bom ou mau. Certo ou errado. Rico ou pobre. Coxinha ou petralha. Anarquista ou
fascista. Sempre em uma polaridade doentia e incomoda. Heiner Müller reconstruiu
o clássico de Shakespeare e no texto de dramaturgia “Hamlet Machine” antevia o
que parece vivermos: quero ser uma máquina!
A única
solução para corrigir esse desvio de rota da humanidade seria estudar filosofia
e artes nas suas possibilidades infinitas de expressão. Fico bem desanimado
quando vejo artistas e estudiosos de filosofia contaminados por esse pensamento
binário embutido em mentes humanas. E o que seria a solução torna-se
redundância do erro.
Parafraseando
Jorge Luis Borges, “eu estou velho e logo vou morrer!” Mas, vivi um mundo
pensante, onde a conversa de ideias divergentes eram momentos agradáveis de
prazer e não de combate agressivo com falas emburrecidas.