sábado, 30 de novembro de 2013

Escrevendo com Compromisso


Em um momento de grande reciclagem profissional, eu tenho dedicado muito do meu tempo na redação de textos.  É um  caminho lento de retorno financeiro, porém muito prazeroso. 

Entreguei a um grupo de atores  um texto “encomendado” para uma peça que deverá ser encenada no segundo semestre de 2014. Eu torço profundamente para o sucesso desse espetáculo. Mas, aprendi com muito esforço que quando acabamos um texto ele não mais nos pertence e os caminhos que tomará não são mais nossos. Exercitei agora um lado que me fez bem: a comédia. É muito divertido criar pensando no lado bom da vida. Eu ri muito ao ouvir a primeira leitura realizada pelos atores. E como são histórias cotidianas, eu fico identificando cenas a cada passo que dou.

Para escrever, nós precisamos intensificar nosso espirito analítico. Assim, eu tenho observado demais as pessoas e fico com uma sensação de “pára o mundo que eu quero descer”! Penso que vivemos um momento em que a humanidade se recicla. Eu prefiro pensar que eu estou enlouquecendo e as pessoas estão sãs. Temo na verdade que seja o oposto. Uma das observações é que o mundo moderno tem salientado os julgamentos rápidos, precipitados e unilaterais. Parece que julgamos muito rápido os outros e sem oportunidade de defesa. Fulano é assim! Ou fulano foi errada, não presta, é ladrão, é desonesta, fofoqueira e por aí vai! Eu não fico fora, mas eu tenho me policiando a cada minuto. Sou julgado? Sim sou. Julgo? Também. Mas procuro não deixar meus julgamentos no vazio. Percebi muitos julgamentos mantidos no anonimato e na falsidade! Constatei com certeza que é uma associação pura e simples de covardia e mediocridade. Mudo coisas em mim, mas não mudo mais ninguém. Quem acha certo... siga!

E o que era a proposta inicial deste blog, pode parecer leviano e como estou escrevendo com compromisso, eu me ausentei do que é sem compromisso. É... a velhice é definitiva!  Antes que julguem... acredito na velhice como a melhor decorrência da maturidade bem vivida! Maravilhoso saber “o que quero” e “o que não quero”! Sou responsável por tudo de bom e ruim que acontece comigo. Não delego isso a ninguém... o que for bom quero meu mérito e o de ruim não teria fuga de jogar a responsabilidade nos outros para me sentir sem culpa ou impune. É confortável aceitar coisas que não estão no meu controle. Sanidade ou loucura?


Até breve... prometo escrever mais sem compromisso!

domingo, 18 de agosto de 2013

Caminhando e escrevendo


Escrever é algo orgânico para mim. É bem curioso e desde muito cedo lembro de gostar de escrever. Cartas, redações na escola, poemas, contos, discursos, anúncios publicitários, relatórios, bilhetinhos e até organizar meus pensamentos... tudo sempre foi melhor escrevendo!

A dramaturgia está presente nas minhas produções há uns 17 anos, no ano passado tive a emoção de ver ENTRE RIOS tomar corpo nos palcos. Um projeto grandioso construiu a possibilidade virar uma montagem de grande porte (http://rubensjr.ato.br/entrerios) e em breve será concretizada.

Senti a necessidade de criar uma história menos conceitual e recheada de um realismo contagiante. Quis escrever uma história dessas que as pessoas se identificam, são tocadas,

Lisboa
choram, ficam incomodadas, choram. Quis criar personagens daqueles que parecem com todo mundo e até com nós mesmos. Tracei um argumento em uma única folha de papel e coloquei na mala de uma viagem de férias eminente. O único destino acertado era Lisboa. Eu sabia que por ficar um período longo por lá eu fatalmente iria para outros locais, porém o destino inevitável era Lisboa. Resgate pessoal e familiar que eu tinha que encontrar. Eu sabia que em algum momento o novo texto aconteceria e seria redigido.

Trem Porto-Lisboa
Alguns dias passaram e não tinha motivação e nem tempo para escrever, afinal.... férias é bom para a cabeça relaxar. Fui para o norte de Portugal e alguns dias por lá... senti que iria começar a qualquer momento. No trem voltando a capital Portuguesa, eu comecei a escrever. E contrariando tudo que já fiz... o título saiu. Afinal, eu estava A CAMINHO DE LISBOA. Em cerca de duas horas,  as três primeiras cenas estavam prontas. Vou ao encontro de meu anfitrião e propus ler este início de criação. Li. Perplexo, o meu amigo questionou se tinha escrito durante a viagem de trem. Respondi que sim. Calado ele ficou curioso ao extremo e me enchendo de elogios quis saber como a história continuava. Expliquei para onde os fatos caminhavam e ele continuou com elogios.

Eu tinha ansiedade por terminar o texto, mas eu já estava com passagens para Madri. As férias continuavam e eu não imaginava como seria meu processo de criação. Durante duas
Ruas de Madri
noites entre uma saída e outra, entre copos de sangria, sanduíches de jámon e tortillas... escrevi mais duas cenas. Ainda em Madri, eu lembrei de algo fantástico. A volta para São Paulo significava 9 horas de voo diurno. Perfeito. Não poderia ser melhor.

Já dentro do avião... o universo conspirava. Em um bloco de 4 passageiros, eu estava sozinho. Serviço de bordo. Um filmezinho para descontrair e.... quase 2 horas voando... Pensei então: vamos lá! Foram cinco horas ininterruptas. Que sensação de prazer ver cenas sendo montadas e os conflitos entre personagens definidos. Desembarco e uma cena concluiria o texto.

Aguardei uns dois dias para me livrar do “jet lag“ e em menos de uma hora... o texto finalizado. E o mais divertido. Acabando de chegar eu tinha nas mãos A CAMINHO DE LISBOA eternizado. Diretor convidado, elenco escolhido e agora é fato... dia 13 de setembro, e apenas três após a citada viagem de trem e a estreia acontecerá. Um aprendizado enorme e pela primeira vez meu fluxo criativo foi controlado, domado e conduzido. Escrever é orgânico, porém tenho certeza agora de que também esse prazer só meu pode ser produtivo sempre. Que venham outros caminhos e outros textos.

https://www.facebook.com/a.caminho.lisboa

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Raízes...

Algumas situações me levariam a Portugal antes, mas isso não aconteceu. E no meio de um período de tomadas de decisões imprescindíveis, eu resolvi tirar uns dias de férias, onde base seria em Lisboa, Portugal. Um querido amigo morando por lá foi o estímulo final. Adoro essas viagens que surgem em poucos dias, o improviso de não ter roteiro pré-estabelecido nos faz viver os locais visitados e com pouca programação de turista!

Manjerico Tradicional
Mesmo escapando uns dias para Madri pude sentir em Portugal a essência de minhas origens familiares. E talvez... foi assim que eu entendi um pouco porque demorei tanto para ter esse destino de viagem. Minhas raízes estão lá! A etnia desse povo lusitano trazia na memória minha avó com seus hábitos e a cultura peculiar que se fez presente em minha família. Meu pai voltava muito entusiasmado a cada vez que viajava para lá. Emoção se fez presente muitas vezes, pois em cada canto de Lisboa eu o percebia. As sardinhas e a comida em geral, os bons vinhos, pessoas que gostam de conversar... esse era um olhar de vida que agradava demais meu saudoso pai. Foi muito intensa essa experiência.

Meus pais se casaram no dia de Santo Antônio e este ano teriam completado 60 anos de casados e justo nessa data em Lisboa as ruas são tomadas por grandes festas. Foi uma surpresa encantadora conhecer esta festa de rua... em alguns momentos me lembrou o Carnaval da Bahia.

A população e os turistas vão para as ruas com música e comida. A tão esperada sardinha assada, no prato ou no pão, os bifes, o caldo verde, o chouriço na brasa, os doces e os manjericos são os convidados sempre presentes nessa noite de festa. O programa é, porém, muito mais vasto, e inclui
festivais, cinema, exposições, teatro de rua e muita animação. Lisboa vira palco de várias iniciativas ao ar livre e as famílias inteiras participam.

Os baladeiros  e o “esquenta” nas casas dos amigos também vale.  Bairro Alto e Bica que já são animados ficam lotados e a cada quadra um diferente estilo musical deixa todo mundo contente. Vinho, cerveja, ginginha, sangria e até caipirinha e mojito dão o tempero etílico de uma animada noite que só termina no dia seguinte.

Essa foi a Lisboa que vivi. Emoção e muita diversão!



Veja vídeo com trechos da festa em 2012 - clique aqui

Logo Oficial das Festas

segunda-feira, 6 de maio de 2013

É fato: somos tão jovens!


Meio que no susto, eu fui assistir ao filme “Somos tão Jovens”. Quando tive as primeiras informações desse filme, eu fiquei com muito receio de qual abordagem sobre a vida de Renato Russo poderíamos assistir. Minha geração é a mesma dele. O seu público mais forte era de uma faixa de um pessoal com uns 5 anos menos que eu. Gostava bastante sim do Legião Urbana (ouvi falar do antecessor Aborto Elétrico), mas estava cronologicamente um passo antes... algo entre Blitz e Paralamas.



O filme é bem feito e com algumas atuações em destaque como as de Sandra Corveloni  como a mãe de Renato e Laila Zaid como uma personagem fictícia Aninha, um misto das suas três melhores amigas na adolescência. Thiago Mendonça (como o protagonista) deu conta da responsabilidade de personificar um ídolo ainda presente em tempo próximo na mente de seus fãs. O texto e a direção são bem cuidadas. Alguns atores tiveram um erro básico, mas que pode ser mais seguro, que foi o de imitar personagens que retratam ícones do rock nacional contemporâneos de Renato Russo. Ao fugirem por receio ou falta de experiência... caíram no caricato e foi inevitável o riso. Eu gostei bastante, mas na verdade o que me fascinou foi um perfeito retrato de época de tempos que vivi intensamente.

Pensei em coisas que vivi e que devem ser incompreensíveis para quem tem menos de 35 anos. As fitas cassetes que traziam músicas de discos que não tinham sido lançados no Brasil. As relações coletivas... as turmas... as galeras... fico triste quando vejo que o mundo tecnológico fez perder tudo isso. Ir a casa de amigos... o pessoal reunido nos quartos ouvindo música e conversando (e muito). A transgressão poética das bebidas e até das drogas bem longe desse mundo de tráfego/crime de hoje em dia. Os sonhos, os planos, os amores tudo compartilhado dentro das casas e não numa rede social. A mãe que se preocupava em servir lanchinhos (que delícia). O fim a ditadura que promovia um jovem já não mais militante, mas inconformado com o País. Que viajem encantadora pude presenciar. Tudo tem seu momento e esse foi o momento que vivi! .... e até porque ainda “somos tão jovens”!



Sinopse: 'Somos tão Jovens' conta a emocionante e desafiadora história da transformação de Renato Manfredini Jr. no mito Renato Russo, revelando como um rapaz de Brasília, no final da ditadura, criou canções como ‘Que País é Este’, ‘Música Urbana’, ‘Geração Coca-Cola’, ‘Eduardo e Mônica’ e ‘Faroeste Caboclo’, verdadeiros hinos da juventude urbana dos anos 80 que continuam a ser cultuadas geração após geração por uma crescente legião de jovens fãs.


FICHA TÉCNICA
Diretor: Antonio Carlos Fontoura
Elenco: Thiago Mendonça, Sandra Corveloni, Marcos Breda, Laila Zaid, Bianca Comparato, Bruno Torres, Daniel Passi, Sérgio Dalcin, Conrado Godoy, Nathalia Lima Verde, Ibsen Perucci, Edu Moraes, Olivia Torres, Kotoe Karasawa, André de Carvalho, Leonardo Villas Braga, Victor Carballar, Thiago Casado, Antonio Bento, Nicolau Villa-Lobos, Waldomiro Alves, Natasha Stransky, Rene Machado, Kael Studart, Vitor Bonfá, Henrique Pires, Maísa Lacerda, Paulo Wenceslau
Produção: Letícia Fontoura, Antonio Fontoura
Roteiro: Marcos Bernstein
Fotografia: Alexandre Ermel
Trilha Sonora: Carlos Trilha
Duração: 104 min.
Ano: 2011
País: Brasil
Gênero: Drama
Cor: Colorido
Distribuidora: Imagem Filmes, Fox Film do Brasil
Estúdio: Fox Filmes do Brasil
Classificação: 14 anos

quinta-feira, 18 de abril de 2013

E o Sol Nasceu...


Tem pouco mais de um mês que moro no Rio e ainda não tinha conseguido ir ao Teatro. Estava sentindo muita falta de uma boa peça. Trabalho com comunicação e marketing para um grande projeto cultural, mas a minha recente incursão profissional nas artes cênicas (em especial na dramaturgia) pede que meu repertório de produções atuais esteja sempre renovado.

Uma peça me chamou atenção: “Até o Sol Nascer”. O contato com Giuliano Candiago (ator e produtor) fez com que essa brilhante montagem fosse a minha estreia nesta fase como espectador “carioca de São Paulo”.

O Teatro do Solar de Botafogo é muito acolhedor e apesar do trânsito, eu consegui chegar em tempo de um cafezinho e também de trocar algumas palavras com o carinhoso e atencioso Giuliano.

Encantamento é a palavra que define a sensação de assistir o maravilhoso trabalho de Giuliano Candiago com Leticia Birkheuer. Uma comunhão intensa e a entrega da dupla nos palcos emociona e contagia. Eles ficam enormes... gigantes!

Quanta sensibilidade! A direção e o texto são de Luciano Mazza. E o texto é algo muito especial, pois propõe diálogos fortes e intensos que são incorporados por John e Gloria, protagonistas de um encontro comum, porém com confrontos inusitados. Ela uma top model vendo o fim de sua carreira aproximando e ele um garoto de programa com sonhos e possuidor de um amor verdadeiro.

fotos: divulgação

A sensualidade de algumas cenas é sútil e sofisticada. A beleza da atriz transborda no palco. E a proposta de cenários simples fica engrandecida com o jogo cênico e preparação de corpo que acrescidos de uma iluminação e trilha sonora perfeitas.

Revelar mais sobre o espetáculo seria um crime, pois é um desses trabalhos que devem sem saboreados e percebidos com a pluralidade que uma boa interpretação artística pede.

O frescor de estreia em produção mostra o seu amor pelo palco que já tinha como ator e a estreia de Leticia num palco (já que a conhecemos da TV) completam um vigor impressionante.

A peça fica em cartaz no Rio até dia 28 de abril e tem estreia prevista para meados de maio em São Paulo...




Ficha técnica:

Até o Sol Nascer
Texto e direção: Lucianno Mazza
Com Giuliano Candiago e Leticia Birkheuer
Produção: Giuliano Candiago

Centro Cultural Solar de Botafogo
Rua General Polidoro, 180 – Botafogo
Rio de Janeiro - (21) 2543-4511
Quinta à Sábado 21 horas
Domingo: 20h30
Até 28 de abril (maio em SP)

sábado, 30 de março de 2013

Rio ou Sampa! Viver no mundo!


Em 50 anos vividos, eu nunca imaginei morar em uma cidade que não fosse São Paulo. Está certo que algumas vezes, eu até cogitei mudar para uma cidade próxima da capital... na praia ou campo, mas somente aposentado!

Eis que surgiu um convite profissional (que ponderei durante 2 meses) e a decisão tinha como consequência a imposição de morar no Rio de Janeiro, a cidade maravilhosa! De fato... estar dentro do olho do furacão da cultura brasileira não tem preço. E ainda tinha o encantamento de assumir a área de comunicação de um projeto de grandeza sem precedentes na área literária. E quem me fez o tal convite também frisava: o Rio de Janeiro vive um momento especial, você vai gostar e profissionais no seu estilo e com sua bagagem são raros por aqui.

Na primeira semana, eu passei por um batismo de fogo. Foram 3 dias seguidos de 36o C. Algo totalmente novo, após trabalhar por 5 anos em uma sala com temperatura de 15o C. Outro ponto horrível de constatar foi ficar em hotel em um período inicial. Eu me sentia como um desabrigado dessas grandes tragédias.

Eis que parte da situação foi resolvida quando na segunda semana aluguei um pequeno “loft”. Para meu espanto e por essas coincidências da vida, eu vim morar próximo de um dos lugares mais lindos aqui do Rio. Sempre me emocionei nas pedras do Arpoador. Estou no coração do Posto 6 em Copacabana e caminhando poucas quadras estou em Ipanema. O local é muito bom com bancos, farmácias, padarias, supermercados, enfim com toda infra-estrutura.

meu cantinho no Rio
Bom... com a poeira abaixando vem o dia a dia! Algumas pessoas pelo facebook apregoavam que eu estava numa vida boa. Como assim? Boa sim, claro! Mas não no senso comum da cidade de praia.. com pouco trabalho. Sabia que estava no Rio, pois o Metrô de superfície (sim, vou trabalhar de metrô) me faz ver isso pela janela, porém pisei no calçadão de Copa apenas no 17o dia de morador da Cidade Maravilhosa. E aí aquela constatação óbvia. Como paulistas e cariocas tem estilos diferentes... em tudo. E como bom forasteiro tenho que me adaptar ao “Carioca Way of Life”. O paulista deve ser muito carente, pois pega os amigos no colo. No Rio todo mundo é amigo... mas cadê? Onde estão?

Depois de 2 finais de semana em São Paulo, no feriado estou por aqui! Está certo que nada dentro de rotina, pois tenho amigos me visitando! Dias de sol e praia. Tudo bem típico. Praia no Rio e não como turista e sim como laser de cidadão! Dias antes de mudar, eu passei pela Avenida Paulista (minha paixão) e emocionado fiquei com os olhos em lágrimas! E com a sensação como a de ir morar em Tóquio senti saudades dessa Sampa amada! No dia que faleceu o cantor Emílio Santiago, eu caminhando perto de uma loja... pude ouvir sua voz sendo reproduzida com “Copacabana, princesinha do mar...” lindo! E agora? E se eu ouvir “Sampa do Caetano” ou “Sinfonia Paulistana do Billy Blanco”? São lindas homenagens de um baiano e um carioca para uma cidade que encanta muita gente! Nossa... que saudades da minha rotina paulistana. 


Se ficarei no Rio por muito tempo? Não sei! Quero viver essa experiência! Quando der estarei na minha cidade querida. Como bom paulistano sei o que é sermos cosmopolitas. E creio que para viver bem preciso me acostumar a ser um “carioca de São Paulo”. Sou brasileiro e um cidadão do mundo!