terça-feira, 10 de novembro de 2009

Geisy ou Geni?

É a bola da vez! Talvez por minha vida acadêmica que tem uma história de quase 15 anos como professor em sete instituições de ensino superior, - tendo sido coordenador de curso e até Diretor em uma delas – estou sendo constantemente abordado sobre o emblemático caso da “Loira de vestido ousado da Uniban”.

Tomei a decisão agora de colocar apenas alguns pontos de vista da minha reflexão. De qualquer forma, se o caso tomou essa proporção, que sirva de alerta (seja qual for sua opinião) para observamos a sociedade em que vivemos, que mesmo em tempos de redes sociais apenas mudam um referencial tecnológico e continuam com seus mesmos conflitos.

• Pernas de fora sempre frequentaram bancos, escadas e corredores universitários. Nas minhas lembranças estudantis há mais de 20 anos, nossas colegas levavam ao delírio a ala masculina. Sinceramente, eram até mais ousadas do que a “musa Geisy”. Hoje, são executivas, esposas e mães.
• Casos parecidos ou similares? Eu testemunhei muitos. Lembro de um aluno ameaçado por ter posado nu em revista gay e não aceitar assédio de postulante colega leitor. Ou de alunas “garotas de programa” que preservam ferrenhamente sua identidade e mesmo assim são patrulhadas. Soube até de professores que expuseram suas estripulias sexuais em uma conhecida revista feminina.
• Muito se falou em “falta de valores”. Mas quais valores? Será que a Geisy, seus colegas, fãs e agressores sabem o que é ter valor? Ou será que tiveram a oportunidade se saber do que se trata respieto mútuo.
• Poucos anos atrás, um aluno xingou com todos palavrões conhecidos e até alguns inéditos uma colega professora. A faculdade fez corretamente uma advertência por escrito e estipulou um prazo para sua retratação. O aluno procurou a direção e honestamente ficou surpreso, pois disse que tratava “todo mundo” – inclusive seus pais - com esse linguajar. Disse desconhecer que não se pode falar assim com professores! Essa resposta me chocou mais que o ato de xingar.
• A Universidade foi frágil sim. Isso é fato! Não soube agir e quando fez, errou! Será que a comercialização do ensino não deixa instituições despreparadas?
• Dizem que a Geisy vai posar para “Playboy” e até que vai estar no programa “A Fazenda” da TV Record (essa eu ouvi hoje). Bom, mas e daí? Ela é culpada? Quem recusaria na sua condição tais convites? Se convidam é porque vende revista ou dá audiência. Talvez seus agressores até comprem um exemplar e peçam para “a ilustre colega” assinar.

O melhor texto que li foi do Tuty no Estadão. Muito bom mesmo e reproduzo abaixo. Até porque ele foi muito coerente e bem humorado (como sempre). E acertou ao não julgar! Façamos o mesmo!

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

O Livro dos Monstros Guardados

Um grande espetáculo! Uma profunda emoção toma conta da plateia da montagem de “O Livro dos Monstros Guardados”. Mas quais são esses monstros? E porque estão guardados? Essas são as perguntas iniciais que nos vem à cabeça, mas a certeza é que ao sairmos do teatro essas perguntas estarão plenamente respondidas. Ou no mínimo começaremos uma grande reflexão.

A comunhão entre os atores é percebida em cada segundo de interpretação, mesmo sendo uma maravilhosa colcha de retalhos (monólogos). A direção é uma competente costura das várias histórias transformando em uma apresentação sensível e cheia de surpresas. As cenas que parecem desconexas, no final se transformam na solução precisa e coesa do texto. Personagens e figurinos têm um certo tom de cinema europeu, algo como meu favorito Almodóvar.

A peça tem algo só dela. Aliás, este é o segundo trabalho que assisto deste diretor e percebo que seu trabalho tem sempre o frescor de uma linguagem inusitada. Essa peça se resolve por si só. As circunstâncias e objetivos de todos profissionais são pontuados por uma excelente colocação das vozes. O processo de um bom trabalho fica claro em uma partitura coerente de personagens.

A amargura e a ironia retratam um universo de desajustados e com sentimentos “guardados” como os de um executivo que abre suas fantasias sexuais, um rapaz maníaco por limpeza e uma mulher obcecada por caridade se contrapõem a uma garotinha que retrata abusos e a um jovem com problemas urinários. Em certo momento, já com a interação entre personagens, a representação de um cãozinho machucado transborda na atuação. Enfim as histórias de Magali, Madá, Maurício, Max, Milton, Mestre Eme e Mojo são explicadas em primeira pessoa. Os atores são personagens e também auto-narradores das ações.

Iluminação e cenário são também uma diferencial com cabines de banheiro. Não poderia ter lugar mais adequado para mostrar sentimentos guardados. O figurino é simples e bem cuidado. Assim, o espectador sai com a leitura completa de um livro encantador. É “O Livro dos Monstros Guardados” composto por autor, diretor e atores.










Ficha Técnica:

O Livro dos Monstros Guardados
Direção: Zé Henrique de Paula
Com: Sandra Corveloni, Otávio Martins, Fabio Redkowicz, Daniel Tavares, Patricia Pichamone, Luciano Gatti e Fabrício Pietro
Duração: 70 minutos
Classificação: 14 anos
Texto: Rafael Primo


Teatro Imprensa
R. Jaceguai, 400 - Bela Vista - Centro. Telefone: 3241-4203.
quartas e quintas: 21h.
Uma lata de leite em pó, trocada na bilheteria uma hora antes, dá direito ao ingresso pelo Projeto Vitrine (quem não puder levar a lata paga 10 reais inteira e 5 reais meia). Até 26 de novembro.