domingo, 4 de outubro de 2009

Ousadia teatral com forte sensibilidade


“As troianas – Vozes da Guerra” é a ousada montagem teatral do diretor Zé Henrique de Paula e seu Núcleo Experimental. A base é a tragédia grega de Eurípides em um interessante paralelo com mulheres judias na II Guerra Mundial em uma livre adaptação. Os cenários muito belos são de uma simplicidade eficiente. Nas primeiras cenas ainda é utilizado um recurso de multimídia com a exibição de um filme especialmente produzido para o espetáculo.

Os cenários são de uma beleza tocante e simples e que reforçam imagens fortes e marcantes. Essa transformação de um texto clássico (ou mesmo a versão de Jean Paul Sartre) exige uma atenção especial da plateia. Os homens falam apenas em alemão e as mulheres na mesma língua apenas cantam, rezam ou dizem seus nomes.

Todo o trabalho do diretor e a coesão dos atores resgatam a história das sobreviventes do conflito de Tróia, como o que se passa dentro de um campo de concentração, como é ter a privação quase que completa de seus direitos, como são tratadas essas pessoas e se existe esperança numa situação como essa.

Helena, rainha de Esparta, ostentava o título de "mulher mais bela do mundo". Em visita à corte grega, Páris – príncipe de Tróia – conheceu Helena e supostamente a raptou. Menelau, seu esposo, num acesso de raiva e ciúme, estourou uma batalha entre gregos e troianos. Começava aí a famosa Guerra de Tróia. "As Troianas" trata do fim desse conflito vencido pelos gregos. Todos os homens troianos foram mortos. Algumas mulheres sobreviveram, mas foram aprisionadas e viraram escravas do inimigo. Em “As troianas – Vozes da Guerra” os espartanos são bem transpostos em militares nazistas e uma Helena altiva que se diferencia e destaca do grupo de mulheres, porém todos mostram uma comunhão perceptível na qualidade final do que é apreciado por quem os assiste.

A iluminação é um toque especial e um elemento único no cenário engrandece um clima de veracidade do princípio ao final da peça. Uma criança em cena destaca o conflito de mães desesperadas, sem esboçar qualquer mínimo traço piegas. Mesmo quem não gosta de temáticas fortes não consegue deixar de reverenciar um trabalho competente e responsável. A dor das judias (troianas) sozinhas pela perda de seus homens e filhos se defronta com a dureza de alemães nazistas (espartanos). O mais importante é que mesmo para aqueles que desconhecem o texto, a verdade em cena e a dramaticidade dos atores chega a todos e transmite o horror comum e odioso em qualquer conflito de guerra.

Ficha Técnica:
As Troianas - Vozes da Guerra - Drama
De 11/09 a 01/11 - Sex, Sab e Dom
Horário: sex, às 20h30; sab, às 20h e dom, às 19h
Preço: R$20,00 e R$10,00 (meia)
Rua Rui Barbosa - 153 Bela Vista Fone: 3288-0136
Texto: Livremente adaptado de As Troianas, de Eurípides
Direção: Zé Henrique de Paula
Direção Musical: Fernanda Maia
Elenco: Inês Aranha, Norma Gabriel, Kelly Klein, Ci Teixeira, João Pedro de Almeida Teixeira, Alexandre Meirelles, Fábio Redkowicz, Léo Bertero, André Dallan, Bibi Piragibe, Claudia Miranda, Diana Troper, Karin Ogazon, Marcella Piccin, Patrícia Vieira
Atores Convidados: Inês Aranha e Norma Gabriel
Participação em Vídeo: Patricia Pichamone e Sergio Mastropasqua

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