domingo, 16 de dezembro de 2012

Recusa.


Não poderia existir melhor opção para finalizar meu domingo do que assistir uma boa peça de teatro. Já tinha conhecimento por comentários da qualidade enorme do trabalho da Cia Teatro Balagan (www.ciateatrobalagan.com.br). E hoje pela manhã li nos jornais que acabava a mostra Uma Simetria Invertida com a peça Recusa. Ou seja, eu precisava assistir HOJE!

Na mostra, que aconteceu nas instalações da SP Escola de Teatro, na Praça Roosevelt,  existia uma outra montagem com Prometheus – A Tragédia do Fogo, além de palestras, filmes e uma apresentação da cantora Marlui Miranda. Nessas horas, a gente percebe o quão rica é a vida cultural de São Paulo, pois não conseguimos dar conta de conferir tudo que há de melhor acontecendo na cidade simultaneamente.

Recusa tem um texto impecável de Luís Alberto de Abreu e direção de Maria Thaís. Os atores Antonio Salvador e Eduardo Okamoto são de uma intensidade em cena que não me lembro de já ter assistido algo parecido. A brilhante atuação dessa dupla significou a premiação da APCA – Associação Paulista dos Críticos de Arte na categoria melhor ator. MERECIDO!

Os primeiros minutos acontecem em um dialogo entre dois índios na sua língua nativa. Luzes e cenário davam um toque diferenciado. O trabalho de corpo é fundamental e o que parecia caminhar para um espetáculo lento transformou-se num impactante amor às raízes.

Dois índios, de uma tribo considerada extinta, vagam por fazendas de Mato Grosso. Há mais de 20 anos não havia sinal da sua etnia. Mas essa dupla de sobreviventes se recusa a fazer contato com quer que seja. Não quer falar com homens brancos. Não quer ajuda. Juntos, eles apenas riem das histórias que contam um ao outro. Preferem ficar só. Também aparece uma dupla de heróis ameríndios, Pud e Pudleré. O fazendeiro que matou um índio e sua vítima, além do resgate de Macunaíma e seu irmão.

O projeto para a montagem de Recusa nasceu há três anos quando atores, diretora, dramaturgo, preparadora corporal e cenógrafo, instigados por notícias de que a Procuradoria-Geral da União queria demarcar área de dois índios isolados. Com isso começaram uma pesquisa com antropólogos e estudiosos para chegar a um processo criativo dentro desse. Os jornais em 2008 noticiavam o aparecimento de dois índios Piripikura, etnia considerada extinta há mais de 20 anos.

Durante todo o processo de criação a Cia. Teatro Balagan, tornou público, na sua sede, o resultado da sua investigação. E no ano passado, eles realizaram pesquisa de campo em Rondônia com o povo indígena Suruí Paiter.  A pesquisa dos roteiros dramatúrgicos que experimentam os modos de narração, a sonoridade e outros modos de construção verbal (como a desestruturação da língua portuguesa, quando falada pelos indígenas). Exploram também cantos de diversos povos indígenas, que fundamentam a linguagem e são eixos que guiam a criação, permitindo que mundos distintos interpenetrem-se, que múltiplos pontos de vista encontrem-se e alguns seres, como os espíritos, os animais e as coisas, expressem-se. Ainda em processo de criação, eles mergulham nas relações de encontro, estranhamento, trocas e negociações estabelecidas entre esses diversos seres, mundos e a cultura branca.

Lindo! Fica minha reverência e também virei fã desse pessoal.

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