quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Homenagem à Carminha!


Muitas vezes, curtas convivências mais do que amizades nos trazem respeito e dedicação. Hoje, eu recebi um texto do Dário, um rapaz que espero poder ter sempre por perto. Sua mãe faleceu há uma semana e esse texto me tocou demais. Aqui mesmo neste blog já falei da saudade que sinto de meu pai (clique aqui) e pensei então no caminho que meu querido amigo agora vai trilhar por saudades de sua mãe!

Dário, essa é vida meu amigo! A Carminha sempre terá orgulho de você! E eu, num mundo tão frio... fico feliz por te conhecer!

Texto da Homenagem:

"Batalhadora, guerreira, generosa, caridosa, carinhosa, feliz. Como uma prima minha disse por esses dias, é bem difícil definir em uma única palavra como era a minha mãe. Era guerreira, mas não era só guerreira. Era alegre, mas não era só alegre. Para que uma única palavra pudesse definir como era a minha mãe – a dona Maria do Carmo, Carminha pra uns, Carmem pra outros e do Carmo ou apenas Maria pra tantos outros – seria necessário que os dicionários passassem a contemplar um adjetivo ainda inexistente, um adjetivo que agregasse em sua essência todos os valores cultivados pela dona Maria do Carmo ao longo de sua vida, dentre eles, com certeza, a bondade, a generosidade, a disposição, o ânimo, a garra, a honestidade, a alegria e, sobretudo, a fé e o amor à vida. Assim como fizeram outros milhões de retirantes ao longo das décadas, minha mãe, nascida na Bahia, com muito orgulho, veio pra cidade grande ainda moça, com quase vinte anos, em busca de uma vida mais digna e menos sofrida. Aqui fez de tudo um pouco: trabalhou em tecelagem, em casa de família, foi telefonista, chegou a fazer muitos bolos, doces e salgados pra festa, e, sem exagero, costurava tão bem quanto as melhores costureiras. Acho que o barulho de uma máquina de costura ligada sempre vai me fazer lembrá-la, porque desde quando eu era criança acostumei a ver a dona Maria do Carmo descendo a lenha na máquina pra ajudar o meu pai no sustento da casa e na educação dos filhos. Aliás, continuando a história, já vivendo em São Paulo minha mãe conheceu o seu Darli, meu pai, que seria o seu futuro marido, e com quem concebeu dois filhos: meu irmão Claudio e eu. Dona Maria nos ensinou muita coisa, a mim, ao meu irmão e até mesmo ao meu pai, a família que ela amava. A mim, particularmente, ensinou também os primeiros acordes de violão. Fizemos muitos duetos em casa. Minha mãe adorava cantar e tocar violão. Conviver com a dona Maria do Carmo era estar diariamente ao lado de um legítimo exemplo de coragem e determinação. Mesmo com todas as adversidades e os problemas de saúde, que não eram poucos, minha mãe estava sempre sorrindo, sempre disposta a ajudar o próximo, sempre preparada a oferecer o seu ombro amigo. E muitos de vocês aqui presentes devem ter convivido com ela, devem ter acompanhado os trabalhos que ela realizou aqui mesmo nessa comunidade, e, certamente, podem agora reviver na lembrança alguns desses momentos. Em resumo, a dona Maria do Carmo, minha mãe e do meu irmão Claudio, e esposa do seu Darli sempre teve mais garra e energia do que nós três e as torcidas do Corinthians e Flamengo juntas. E quando me lembro dela é sempre um sorriso grande que me vem à cabeça, porque afora os dias nublados que nenhum de nós pode evitar, minha mãe sempre viveu com um sorriso estampado no rosto. Nem o derrame cerebral sofrido há três anos e meio conseguiu derrubá-la por muito tempo. Mesmo resignada a uma cadeira de rodas e com a fala prejudicada, minha mãe continuou sorrindo, cantando muito e tocando gaita. E até nos seus últimos dias na UTI, ainda pedia para voltar pra casa, queria saber das novidades e era capaz de sorrir. Minha mãe nos deu lições de vida e manteve a fé em Deus até o seu último momento. Agora, depois da perda, são inevitáveis a saudade e a vontade de ter vivido outros muitos anos ao lado dela, de ter lhe dado outros muitos beijos e abraços. Mas o que nos conforta é a certeza de que ela agora está no céu, em paz, descansando e vendo toda essa homenagem com um sorriso no rosto. Estamos certos de que essa despedida temporária não foi um adeus, foi apenas um até logo, porque um dia ainda nos encontraremos de novo. Até esse momento, sua lembrança fará de nossas mentes um lar e seguirá abraçando nossos corações. Se vocês me permitem, eu queria encerrar contando uma passagem. Uma das enfermeiras da UTI do Hospital Universitário, onde minha mãe passou suas duas últimas semanas de vida, me contou que quando ela já estava bem fraca, uma noite antes do quadro dela se agravar, ela disse com a voz bem baixinha que estava doendo muito e que já não agüentava mais. Depois pediu para que lhe ensinassem o caminho do céu e entoou um hino de louvor que a enfermeira não soube dizer qual era. Tenho certeza de que quando ela pediu para aprender o caminho do céu, ela estava vendo um anjo lindo na frente dela, ou quem sabe até mais de um. E que, a partir daquele momento, ela começou a se livrar de toda a dor e sofrimento. Mãe, eu sei que você pode me ouvir. Obrigado por essa vida maravilhosa que você nos deu, obrigado por ter sido a melhor mãe do mundo. Te amamos e você sempre estará em nossas mentes e corações. Olha por nós. Fica com Deus."

2 comentários:

Anônimo disse...

Cara, eu estou sem palavras pra te agradecer. Quanta generosidade a tua, Rubão! O título ficou perfeito, "Homenagem à Carminha", perfeito...essa é a vida mesmo, nós que continuamos por aqui temos que seguir fazendo com que nossos entes queridos que já estão num plano melhor continuem se orgulhando de nós, de nossos atos...tenho certeza de que o seu pai também olha e se orgulha muito de você. Como você disse, tivemos realmente um curto período de convivência, mas foi tempo suficiente pra que surgisse essa admiração mútua...cara, estou aqui sempre quando precisar...forte abraço, Rubão!

Do teu amigo,
Dário

DO disse...

Muito bonito,Rubens. algo que saiu,com certeza,do coração. Fiquei sem palavras.

Abraços!